quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Seu filho está seguro em casa?

Por Carolina Mouta
Matéria para o site Bolsa de Mulher *
Imagem: Dreamstime


Num piscar de olhos aquele bebezinho que só ficava no colo começa a andar. Passinhos trôpegos logo darão lugar a um andar apressado e, às vezes, a uma corridinha. Quedas e tropeções são mais do que naturais nessa fase. No entanto, não é porque está em casa que seu filhote está em segurança. Já parou para pensar quantos perigos passam despercebidos no recesso do lar? Não? Então, se você é mamãe ou está prestes a entrar para o maravilhoso mundo da maternidade, está na hora de começar a pensar.

Estudos mostram que, pelo menos, 90% das lesões em crianças poderiam ser evitadas com simples atitudes de prevenção. Em meio às expedições de exploração, basta um segundo de distração do adulto para que a criança engula um brinquedinho, coloque o dedo na tomada ou escale o sofá em direção à janela. Até mesmo acidentes com arma de fogo podem acontecer. É preciso preparar a casa.

Alessandra Françoia, coordenadora nacional da Criança Segura, alerta que qualquer risco do ambiente doméstico, se subestimado, pode resultar em um acidente grave. E os dados do Ministério da Saúde provam que existem muitas crianças se acidentando por aí. A estatística mostra as principais causas de morte, mas nem sempre é possível identificar quais ocorreram dentro de casa.

Acidentes no trânsito encabeçam a lista de fatalidades, seguidos por afogamentos, sufocações, queimaduras, quedas, intoxicações, acidentes com armas de fogo e outros, todos estes riscos comuns do ambiente doméstico. "Os números de mortes por acidentes de crianças até 14 anos, segundo DATASUS/Ministério da Saúde (2008), apresentaram-se da seguinte forma: acidentes de trânsito (1.971), afogamentos (1.360), sufocações (754), queimaduras (313), quedas (255), intoxicações (94), acidentes com armas de fogo (36) e outros (323). Foram 5.106 mortes no total. No caso das hospitalizações por acidentes, também de crianças de 0 a 14 anos, foram 109.241 no total, a maior parte delas por quedas (58.581 hospitalizações), posteriormente, acidentes de trânsito (10.874), queimaduras (15.007), intoxicações (3.963), sufocações (504), afogamentos (374), acidentes com arma de fogo (271) e outros (19.667)", diz Alessandra.

Conhecer as particularidades e diferentes características do desenvolvimento da sua criança é um bom caminho para compreender a incidência de determinados acontecimentos. É importante ressaltar que qualquer criança, independentemente de sua classe social, está vulnerável à ocorrência de um acidente.

Cozinha não é lugar de criança
Não é à toa que o velho ditado diz que cozinha não é lugar de criança. E não é mesmo! É um local no lar onde ocorre a maior parte dos acidentes domésticos, sejam queimaduras, cortes, incêndios, dentre outros. Junto com os banheiros e as escadas são os locais mais perigosos de uma casa.

Alessandra Françoia aconselha os pais a controlarem a entrada da criança na cozinha com a instalação de um portão ou grade de segurança. Caso o pequenino drible o esquema, toda atenção é pouca. A maioria das queimaduras com bebês, especialmente entre as idades de seis meses e dois anos, é causada por comidas quentes e líquidos derramados na cozinha. "As queimaduras representam os acidentes mais graves deste ambiente. Além das queimaduras, outros riscos também são comuns como intoxicações, pois a criança pode ter acesso a produtos de limpeza, e lesões com objetos cortantes como facas e garfos", orienta Alessandra.

Cuidado nos detalhes
Piores que os riscos aparentes podem ser os "perigos invisíveis" de uma casa, aqueles que existem, mas, normalmente, ninguém dá importância, até que algo acontece. Pequenos objetos - aparentemente inofensivos - espalhados pela casa também podem causar sufocação. Portanto, guarde bem os sacos plásticos, embalagens de presente. Até pedacinhos de comida podem apresentar perigo. Observe um tamanho seguro para oferecer o alimento ao seu bebê. A sufocação ou engasgamento está no topo da lista entre os acidentes (com morte) de crianças de até um ano.

O afogamento é a segunda causa de morte entre todos os acidentes com crianças de um a 14 anos, no Brasil. É importante salientar que os perigos não estão apenas nas águas abertas como mares, represas e rios. Para uma criança que está começando a andar, por exemplo, três dedos de água representam um grande risco. Assim, elas podem se afogar em piscinas, cisternas e até em baldes, banheiras e vasos sanitários. E fique sabendo: a primeira causa de afogamento com crianças é a falta de supervisão, geralmente por questão de segundos. Não confie na sua rapidez. "Um balde deixado ao alcance da criança com apenas três dedos de água pode significar risco sério de afogamento. Por curiosidade, a criança de até quatro anos pode colocar a cabeça dentro do recipiente e, por ter essa parte mais pesada que o resto do corpo, pode não conseguir mais voltar e acabar afogando em pouca quantidade de água", exemplifica. Por isso, piscinas devem ter grades e o pequeno precisa estar sempre sob o olhar atento de um adulto. Boa parte das crianças que se afogam em piscinas está em casa sob o cuidado dos responsáveis. Um mero descuido basta para que um afogamento ocorra.

Além do perigo de afogamento, um simples banho de banheira, sem que o responsável tenha antes testado a temperatura da água, pode ocasionar sérias queimaduras. Esse tipo de lesão tende a ser mais grave que a ocasionada pelo derramamento de algum líquido quente pois cobre uma porção maior do corpo. Mas não é por isso que você vai deixar de tomar certos cuidados na hora de cozinhar: os cabos da panela devem estar sempre voltados para dentro. Isso evita que a criança puxe a panela e entorne o líquido.

Quedas de janelas são frequentes. Investir em telas de proteção e grades de segurança evitará que o seu super-homem tente sair voando. As escadas também são vilãs e abocanham boa parte das lesões. Grades e portas fechadas podem diminuir os riscos. Cuidado também com as camas: crianças com menos de seis anos não devem dormir em beliches. Se não tiver escolha, coloque grades de proteção nas laterais. E cinto de segurança não é só para a cadeirinha do carro, não, viu? O dispositivo existe nos carrinhos e nos cadeirões de refeição e precisa ser usado. Bebês, ansiosos por explorar o mundo, querem ficar de pé sob os assentos e, sem o cinto, a queda é certa.

Intoxicações com medicamentos e produtos de limpeza também representam grande risco. Crianças com até dois anos de idade correm maior risco de um envenenamento não intencional já tudo o que consideram interessante levam à boca. Ainda mais se é algo colorido como muitos desinfetantes. Plantas podem ser venenosas. Portanto, verifique se as suas são seguras e ensine as crianças a não colocá-las na boca ou utilizá-las para fazer comidinhas, por exemplo. Brinquedos merecem atenção redobrada. Além de não conterem peças pequenas, que possam ser engolidas, os pais devem se preocupar com o material da composição é atóxico. As tintas do berço e da parede de sua casa podem conter substâncias como chumbo e monóxido de carbono, que fazem mal à saúde da criança. Por isso preste atenção à composição das tintas utilizadas em sua residência. A fumaça de cigarros, cosméticos e até vitaminas pode ser responsáveis pelo envenenamento de bebês, sabia? Fique esperta.

Não subestime seu filho em relação às armas de fogo. Crianças de três anos de idade são fortes o suficiente para puxar o gatilho de muitos revólveres. Já está comprovado que o acidente ocorre porque até oito anos de idade as crianças não conseguem distinguir entre armas reais e de brinquedo. Quase todos os tiros fatais não intencionais ocorrem em casa ou na vizinhança. A maioria dessas mortes envolve armas guardadas carregadas e acessíveis para as crianças.

Quartinho seguro
Bebês, mesmo pequeninos - quando ainda nem engatinham - correm riscos em casa. Para manter as possibilidades bem longe da sua preciosidade, monte um quartinho à prova de qualquer acidente.

Para começar, dê atenção especial ao lugar onde o bebê vai dormir. "Bebês devem dormir em colchão firme, de barriga para cima, cobertos até a altura do peito com lençol ou manta presos embaixo do colchão e os bracinhos para fora. O colchão deve estar bem preso ao berço - não mais que dois dedos de espaço entre o berço e o colchão - e sem qualquer embalagem plástica", ensina Alessandra. Brinquedos, travesseiros e objetos macios devem ser removidos do berço quando o bebê estiver dormindo, para reduzir o risco de asfixia.

O berço em si deve ter certificação do Inmetro, conforme as normas de segurança da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Para evitar que o bebê prenda os bracinhos, as pernas ou se machuque, as grades devem ser fixas e não podem ter mais que seis centímetros de espaçamento. As cortinas e persianas também merecem atenção. Nada de cordinhas penduradas. Isso reduzirá o risco de estrangulamento.

Casinha segura
Está em dúvida se a sua casa é segura para o seu bebê? Veja o guia preparado pela coordenadora nacional da Criança Segura, Alessandra Françoia:

- Deixe baldes e banheiras longe do alcance da criança, guardados virados para baixo;
- Feche vasos sanitários e impeça o acesso da criança a máquinas de lavar louças;
- Tire objetos pequenos como botões, moedas e clipes do alcance da criança;
- Observe se os brinquedos entregues a criança possuem partes pequenas que podem se soltar, se são adequados para a idade da criança e se possuem selo do INMETRO;
- Corte os alimentos em partes bem pequenas na hora de alimentar a criança;
- Use protetores de tomadas e evitar fios elétricos soltos que podem ser alcançados pela criança;
- Cozinhe nas bocas de trás do fogão e evitar o acesso da criança à cozinha. Não cozinhe com a criança no colo e evitar deixar líquidos quentes em cima de mesas e móveis com toalhas que a criança possa puxar;
- Cuidado com eletrodomésticos ligados que a criança possa ter acesso: ferro de passar roupas, aquecedores, secador e chapinha de cabelos;
- O álcool, muito utilizado nos lares para limpeza, deve ser evitado e substituído por outros produtos;
- Escadas devem ser protegidas com portões de segurança;
- Janelas e sacadas devem possuir redes ou grades de segurança;
- Cuidado com móveis que podem ser escalados pela criança ou que podem potencializar um acidente. Ex: um móvel abaixo da janela;
- Medicamentos devem ser armazenados em armários trancados para que a criança não tenha acesso;
- O mesmo com produtos de limpeza, inseticidas e qualquer outro produto tóxico;
- Pesquisa se as plantas de sua casa podem ser tóxicas;
- Armas de fogo: o ideal é não tê-las em casa, mas se for necessário, devem ser armazenadas em locais que a criança não possa chegar, trancadas, separando-se a arma da munição;
- A supervisão do adulto em todo momento também é essencial para garantir a segurança da criança.

Mais dicas no endereço eletrônico da organização Criança Segura.
* O texto pode ter sofrido modificações

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